O governador de Goiás, Ronaldo Ramos Caiado (DEM), mostra grande habilidade política ao moldar o jogo de sua própria sucessão. De alguma maneira, ele redefiniu sua aliança política, ampliando-a, e também desenhou, direta ou indiretamente, a movimentação dos adversários — isolando-os.
O jogo de 2022 será disputado entre os aliados de Ronaldo Caiado e os aliados de Marconi Perillo (PSDB). Não vai sair disso. Quem opera as oposições hoje não é o prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha (sem partido), e sim Perillo.
O rearranjo político formulado por Ronaldo Caiado gerou riscos, porque poderá afastar aliados que, se não forem decisivos, colaboraram para sua vitória em 2022. Mas quem faz política não pode recear correr riscos.
Na nova engenharia política, numa poderosa recriação de aliança, Ronaldo Caiado atraiu para seu lado o PSD do ex-deputado federal Vilmar Rocha, do senador Vanderlan Cardoso (terá aprendido a lição de 2020?), do deputado federal Francisco Júnior e do ex-ministro Henrique Meirelles; o MDB do ex-deputado Daniel Vilela e do ex-governador Iris Rezende; o PP do ex-ministro Alexandre Baldy, do prefeito de Anápolis, Roberto Naves, e do deputado federal Adriano do Baldy. Os três partidos não participaram da campanha de Ronaldo Caiado em 2018. Portanto, não é apenas Daniel Vilela que está chegando agora. Roberto Naves, Alexandre Baldy, Adriano do Baldy (que quer fechar logo a aliança com o governador), Vanderlan Cardoso e Vilmar Rocha se opuseram ao governador na disputa anterior. O governador procedeu também a uma recomposição com o PSL do deputado federal Delegado Waldir Soares, o maior campeão de voto das duas últimas eleições para o Parlamento.
MDB, PP, PSD e o PSL caminharão juntos com Ronaldo Caiado?
O MDB já está definido e já indicou o vice, Daniel Vilela, para a chapa majoritária.
O PSD, se firmar Henrique Meirelles como candidato a senador, estará no palanque do governador. Desde o início, a cúpula do partido, com Vilmar Rocha na linha de frente (ele e Ronaldo Caiado conversam com frequência e o ex-deputado nunca pediu um cargo nem propôs negócios à gestão pública, o que prova o caráter republicano dos diálogos), jogou limpo com o governador.
O PP também quer a vaga do Senado, para Alexandre Baldy, mas pode acabar se contentando com o apoio para formatar uma chapa consistente de candidatos a deputado federal (o que o Progressistas nacional, sob a batuta do ministro-senador Ciro Nogueira, realmente quer são deputados federais). Dependendo do apoio à chapa de Ronaldo Caiado, o PP pode eleger até três deputados federais — Adriano do Baldy, Lissauer Vieira e mais um.
O PSL quer a vaga de candidato a senador para Delegado Waldir — o que é lícito, dadas a força do partido (o segundo maior do país) e a estatura político-eleitoral do deputado. O PSL e o DEM estão em processo de fusão — o nome do novo partido será União Brasil (número 44). Consequentemente, o parlamentar e Ronaldo Caiado estarão filiados ao mesmo partido, o que potencializará a aliança entre ambos. Dificultando, porém, a participação dos dois na chapa majoritária.
O fato é que Ronaldo Caiado conquistou o apoio de quatro partidos sólidos, com estrutura e líderes respeitados. Já a oposição perdeu tais forças. Aqui e ali, alguns membros da aliança poderão trocar de lado. Mas, possivelmente, não será uma força substancial.
Há aliados de Ronaldo Caiado que dizem: "O governador definiu sua aliança muito cedo". Estão equivocados. Definiu no tempo certo, inclusive para forçar a oposição a apresentar seu próprio jogo. Forçou-a se posicionar. Perillo e Mendanha vinham conversando há vários meses, mas agora tiveram de aparecer à luz do dia. Sabe-se, portanto, quem estará com quem em 2022. O jogo foi escancarado. O gestor estadual colocou a oposição para jogar dentro de suas próprias regras.
A chegada de Daniel Vilela à base — e repita-se: não é o único novo na base (Roberto Naves, Alexandre Baldy, Vanderlan Cardoso e Vilmar Rocha também são cristãos-novos) — provocou certo alvoroço. Mas, com sua indicação tendo sido feita agora, a base política pode assimilá-la aos poucos. Ronaldo Caiado terá mais tempo para rearranjar a base anterior. Se deixasse para 2022, com a tinta da caneta acabando, uma recomposição seria muito mais difícil.
Lissauer Vieira, do PSB (de saída), ficou "estremecido" com Ronaldo Caiado, dada a indicação de Daniel Vilela para a vice. Mas já esteve no Palácio das Esmeraldas, com o governador e o prefeito de Rio Verde, Paulo do Vale (DEM), aparando as arestas. O presidente da Assembleia Legislativa, um aliado importante, entendeu que o fortalecimento de toda a base é mais importante do que os projetos individuais. Aos 41 anos, político articulado, Lissauer Vieira simboliza o futuro da política de Goiás.
Quem imagina, em sã consciência, Mendanha como pastor ou padre fazendo o casamento político entre o prefeito Adib Elias (saindo do Podemos) e Jardel Sebba (PSDB)? Se o leitor algum dia ver Adib e Jardel abraçados, em Catalão ou em outra cidade, separa logo, pois é briga — e até letal. Pois, se apoiar Mendanha, o principal líder político do Sudeste terá de suportar o ex-prefeito como uma espécie de seu "líder" e terá de pedir a bênção para Perillo. Homem de caráter, Adib não se tornará, por conveniência e de uma hora para outra, nem jardelista nem marconista. Sobretudo, sabe que o governador, se reeleito, será Ronaldo Caiado — não Daniel Vilela. 2026? Está muito longe. Não para saber o que acontecerá em 2022, imagine em 2026. E Mendanha? Adib sabe que é o novo preposto de Perillo. Nada mais do que isto.
Adib reabriu o diálogo com Ronaldo Caiado. O prefeito tem razão ao ficar chateado com a indicação de Daniel Vilela para vice do governador. Porque o líder emedebista o expurgou do MDB exatamente porque ele apoiou a candidatura do líder do Democratas para governador em 2022. Porém, como político inteligente e homem astuto, Adib sabe, como poucos, que política se faz com todos, e não necessariamente com aqueles de quem se gosta. Ora, se Daniel Vilela vai fortalecer a candidatura de Ronaldo Caiado — contribuindo para enfraquecer Mendanha —, por que ficar contra a aliança? Trata-se de uma questão de lógica, e certamente é o que o gestor estadual dirá ao poderoso líder político do Sudeste.
Vanderlan Cardoso ficará com Ronaldo Caiado? É o que sugere a lógica. Seu partido praticamente já se considera base do governador. Em 2020, o líder do DEM poderia apoiado o favorito Maguito Vilela, mas, leal, apoiou o senador do PSD em tempo integral. Não recuou um milímetro. O líder de Senador Canedo retribuirá o apoio de 2020 em 2022? A lógica e o caráter indicam que sim.
Renato de Castro bancou um candidato a prefeito em Goianésia e Ronaldo Caiado contribuiu para elegê-lo. Após o término do mandato do ex-prefeito, ele foi convocado para assumir a presidência da Codego. Se isto não é lealdade, não se sabe o significado da palavra. O aliado poderia ter ficado no ostracismo, mas o governador decidiu valorizá-lo.
Com a nova aliança e com a base em processo de rearranjo, ao definir o jogo mais cedo, Ronaldo Caiado contribuiu para isolar a oposição. O que restará a Mendanha? Independentemente de em qual partido irá se filiar, o prefeito está carimbado como "o candidato de Marconi Perillo". Com quem mais ele irá? Talvez o Republicanos do deputado federal João Campos e do deputado estadual Jefferson Rodrigues e o PL da deputada federal Magda Mofatto.
João Campos pretende ser candidato a senador e Mendanha teria lhe oferecido a vaga em sua chapa. Magda Mofatto seria a vice. São políticos importantes, mas, somados a Marconi Perillo, Jardel Sebba e Jayme Rincon (frise-se: o ex-presidente da Agetop costuma dizer que está "quietinho" em São Paulo — o que não condiz com o que falam aliados de Mendanha), trata-se de um exército poderoso? Não parece, ainda que não se deva subestimar (nem superestimar) políticos. A política, como a vida, tem seu grau de imponderabilidade.