Faleceu no inicio da tarde desta quinta-feira (30/7), Joana Gomide Margon Vaz, chamada carinhosamente de Dona Joaninha, 86 anos, ex-primeira-dama do município, esposa do ex-prefeito Haley Margon Vaz. Deixou o marido Haley Margon, os filhos Haley Margon Júnior, Ricardo Margon e Letícia Margon, netos (as). Não haverá velório e o sepultamento será às 18h e restrito aos familiares.
Essa Crônica, foi escrita pelo Presidente da Academia Catalana de Letras, Luís Estevam, que relata uma parte da vida dessa mulher bondosa em Catalão.
A Academia Catalana de Letras recorda que, o trabalho de Joana Gomide na prefeitura municipal, na década de 1980, se destacou pelo ineditismo. Nunca antes, na gestão administrativa de Catalão, uma primeira dama havia criado um leque tão variado de programas sociais e comandado pessoalmente sua implementação. Dona Joaninha, como é conhecida, trabalhou diariamente no atendimento comunitário durante seis anos, sem receber qualquer remuneração pelos serviços prestados.
Em termos sociais, a década de 1980 foi bastante crítica para Catalão. A população crescia rapidamente em função do atrativo que as empresas mineradoras exercia sobre os moradores da região. O problema aumentou porque a prefeitura municipal não contava com aparato adequado para amenizar o fenômeno. Na esteira da expansão demográfica surgiam constantemente novas necessidades de moradias, atendimento médico e assistência social.
Até então, o assistencialismo caracterizava as ações de amparo social, porque não tinha política definida de resolução dos problemas a médio e longo prazos. Não que o assistencialismo fosse desnecessário. Porém, as transformações da época exigiam atitudes mais firmes e estruturais para encaminhamento dos problemas da comunidade.
Em 1983, quando Haley Margon assumiu a Prefeitura, não o fez sozinho. A sua esposa assumiu com ele as rédeas do trabalho. Como primeira dama, institucionalizou o feixe de demandas sociais. Criou, de imediato, o grupo das Legionárias do Bem Estar Social, procurando levar à população benefícios mais duradouros e condições de vida mais adequadas para a comunidade.
A meta era a implementação de medidas de longo prazo e não meramente assistencialistas. Ainda assim, as Legionárias não descuidaram do atendimento às carências mais urgentes dos moradores. Foi o caso especial do setor de saúde, com encaminhamento diário aos hospitais e médicos da cidade, através do aviamento de receitas e custeio de exames. Nesse esquema foram realizados centenas de procedimentos especializados com pagamento de cirurgias em Catalão e, quando necessário, em outros centros maiores.
Dona Joaninha, pessoa muito simples, esteve sempre presente na vida da comunidade. Andava numa Brasília amarela, de sua propriedade, e onde aparecia era carinhosamente abraçada pelos moradores. Levava pessoalmente merenda na zona rural e tornou-se indispensável para o povo mais carente do município. Face a isto, o prefeito destinou 3% das receitas para as Legionárias do Bem Estar que construíram dezenas de moradias para os mais carentes da cidade, além de promoverem doação constante de óculos de grau, agasalhos, cobertores, cadeiras de roda, brinquedos e cestas de alimento para os humildes.
Ainda em 1984, a primeira dama também criou a Fundação Municipal do Bem Estar do Menor (Fumbem) e assumiu a sua presidência. Diariamente acompanhava as atividades da fundação, estimulando e orientando para que a assistência ao menor melhorasse de forma constante, além de marcar presença nos eventos sociais beneficentes para arrecadação de fundos para a entidade.
A preocupação com o futuro dos menores desassistidos incomodava Dona Joaninha. Por isso, a Fumbem funcionou em tempo integral, sem período de férias, inclusive nos finais de semana, estando sempre presente na vida dos assistidos. Inclusive, foi montada uma equipe de sondagem para visita às moradias dos menores, visando o acompanhamento deles em casa, na rua e nos locais de trabalho. Mais de 900 menores foram assistidos pela Fumbem, cuidando que tivessem a necessária educação e o aprendizado de uma profissão.
Outra experiência pioneira em Catalão, implantada por Dona Joaninha, foi uma clínica de recuperação de alcoólatras totalmente mantida pela Prefeitura e com alimentação diária para os internos. A sua construção foi coordenada pelas Legionárias que edificaram um outro pavilhão visando atender, naquele setor, somente mulheres. A clínica foi inaugurada no final de 1984 com 2 pacientes. No ano seguinte contava com 15 internos e 50 aguardando vagas. No final do ano já se registravam 102 internações sendo que, mais de 90% das pessoas, que por ali passaram, estiveram recuperadas.
A Casa do Idoso foi outra iniciativa de Joana Gomide que criou um local onde as pessoas mais velhas e carentes pudessem morar, receber toda a assistência necessária e, acima de tudo, muito carinho. Foi construído um prédio com vinte apartamentos que foram ocupados por idosos de maior necessidade. A primeira dama dizia que "os idosos não precisam tanto de assistência material. Eles precisam realmente é de carinho, de amor, de compreensão e de uma palavra amiga".
Compreende-se a profunda veneração que o povo foi adquirindo por Dona Joaninha. Ainda em 1986, ela lançou o programa AME para assistência alimentar do Menor, beneficiando cerca de 1.200 crianças na cidade, em vários bairros, atendendo preferencialmente menores sem acesso à merenda escolar. O objetivo foi sanar o baixo rendimento escolar provocado pela fome e pela subnutrição das crianças.
Outra importante medida social foi a instalação da Sociedade Pestalozzi em Catalão. Desde março de 1984, os alunos portadores de deficiência mental também passaram a ser assistidos em convênio.
No mais, várias creches foram construídas no período, assim como outras obras sociais ficaram realizadas. Centenas de lotes e escrituras foram doados para famílias mais pobres da cidade, distritos e povoados. Para se ter uma ideia, somente no bairro São José, cercanias do velho cemitério, houve regularização de 120 lotes de famílias carentes que tinham apenas a posse verbal do terreno.
Além dos programas mencionados, Dona Joaninha executou um projeto de atendimento odontológico inovador. Não se tratava simplesmente de arrancar dentes e sim de um atendimento completo para a recuperação do sorriso da pessoa. O "Dente-São", como era conhecido, foi levado a todas as escolas e bairros da periferia de Catalão, assim como à zona rural do município.
Fonte: Com informações da jornalista Ivone Rodrigues (Informa Goiás)