Moradora de Catalão, no interior de Goiás, a jovem Ana Teresa Cândido, 23, é um símbolo de que as mulheres podem sim ocupar espaços antes dominados por homens, especialmente quando se exige força física e muita coordenação motora. É esse o caso da modalidade "team roping", laço em dupla, onde um participante tem o objetivo de laçar a cabeça do bezerro e o outro, as patas traseiras, com o cavalo em movimento.
À reportagem, Ana conta que cresceu em meio aos animais, na fazenda dos pais e avós, que são criadores de gado da raça Caracu. Essa vivência com animais de grande e pequeno porte levaram a jovem a se interessar pelas modalidades com animais, como a prova dos três tambores, hipismo e laço (o team roping).
"Para você ter um gado, uma propriedade que é ativa, você automaticamente precisa ter um cavalo para fazer o manejo desses animais, pois você precisa fechar o gado no curral para cuidar, então eu sempre acompanhei e ajudei meu pai nessas atividades da "roça", tomando cada vez mais gosto pelos cavalos", explica.
Aos 10 anos, na fazenda da família, Ana Teresa manifestou, pela primeira vez, seu interesse em laçar gado, algo até então impensável e não muito apoiado, exceto pelo pai, Fausto Cândido.
"Eu era bem nova, deveria ter uns dez anos, eu fiquei insistindo com meu pai para que ele me ensinasse a laçar, desde então ele começou a me ensinar a rodar corda, e conforme o tempo eu fui aprendendo e aperfeiçoando a prática, até que ele me deixou laçar os bezerrinhos recém-nascidos", lembra.
Ana Teresa não conhecia o Team Roping, e por isso, ao ter contato com um médico veterinário amigo da família, demonstrou interesse em praticar a prova dos três tambores, modalidade com maior presença e representação feminina. "Bora começar a laçar", ouviu.
"Até então eu não sabia da modalidade, por mim laçar é na roça, no campo, né? Aí ele foi me mostrar que tinha o Team Roping, eu fui com meu pai no rancho assistir ele laçar e desde então me apaixonei. Fiquei doida. Comprei um boizinho de madeira, o cavalete e comecei a treinar. Fiquei tão apaixonada pelo esporte, que eu ficava laçando tudo que via pela frente, inclusive minha irmã, ela ficava brava comigo", brinca.
A paixão foi tanta, que Ana e seu pai foram até Tupaciguara (MG), cidade a cerca de 140 quilômetros de Catalão, para comprar seu primeiro cavalo treinado para o esporte, o Prudente, da raça Quarto de Milha.
Paixão por desafios
A presença feminina no Team Roping é muito pequena. Na região sudeste de Goiás, não se tem notícia de outra mulher que pratique a modalidade. Atualmente, Ana Teresa, que laça a cabeça do bezerro, já participou de competições em cidades vizinhas, como Ipameri, Urutaí e Araguari (MG).
"Tive bastante dificuldade no início porque como eu sempre fui a única mulher e eu comecei no esporte com 15 anos, eu não tinha cabeça formada nem nada, então passei por grandes dificuldades, principalmente por me inserir em um espaço dominado por homens. Antes do laço eu já havia feito hipismo, tambor, mas o que eu realmente me identifiquei e me apaixonei foi no laço, pois eu gosto de coisas que me desafiam e querendo ou não, sendo realista, laçar é difícil, não adianta falar que não é", brinca.
Mulheres no Team Roping
"Gostaria muito que as mulheres pudessem se inserir mais, pois acho que muita mulher tem um certo "medo" de enfrentar tudo que eu enfrentei, porque não vou ser hipócrita, foi difícil demais, mas hoje eu vendo minha evolução, vendo que eu estou conseguindo, que eu estou conquistando espaço, isso é muito satisfatório", celebra.
Hoje, Ana Teresa é dona do Usuaia, seu segundo cavalo treinado para laçar, da raça Paint Horse e de quase meia tonelada, a que ela carinhosamente chama de "bebezão".
"O cavalo e o dono tem que ter uma boa relação, uma energia conectada, e nossa ele [Usuaia] me ajuda muito, o Prudente me ajudou muito no início, mas ele foi ficando velho e eu precisava aposentar ele", conta.
Com 1,56 de altura e pesando 50 quilos, Ana Teresa pratica o Team Roping três vezes por semana no "Rancho Pacheco", Haras que fica a cerca de cinco quilômetros de Catalão. Ela tem o desejo de correr ao lado de mulheres e também quebrar estigmas da prática, quase que exclusiva para os homens.
"Em sete anos que eu laço, eu nunca corri com uma mulher, infelizmente não tem ninguém aqui na região, então a minha mensagem é que precisamos ter mais mulheres inseridas nesse meio, não é algo que só homem pode fazer. Tanto não é que eu faço, exige sim tamanho e força, mas dá certo. Conheçam o Team Roping", concluiu.