Não há continentes, mares, desertos em que não se encontre vestígios dos impactos de nossas ações. Justamente porque pensávamos que a Natureza seria um domínio lá fora, como fosse uma reserva ilimitada à nossa disposição, não nos interrogamos sobre os limites das nossas intervenções sobre o mundo natural. E deu no que está dando!
O ambiente da Terra está estressado. Não há descanso para que a natureza se recupere. Um dos exemplos é o que acontece com os biomas brasileiros, onde o desmatamento está acelerado. Na Amazônia, desde 2019, 97% dos alertas não foram fiscalizados e, ainda de acordo com dados do INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais –, em abril, sendo mês de chuvas por lá, quando o ritmo das motosserras naturalmente arrefece, os alertas bateram recorde para o período.
Difícil para o Planeta ser resiliente. Nossos excessos e descuidos contribuem enormemente para a poluição das águas, do ar e do esgotamento do solo. Basta observar como e o que comemos, o alto nível do desperdício, o quanto consumimos, o que atribuímos como lixo. A Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) avalia que cada brasileiro produz 1 kg de lixo por dia.
Resíduos que não são descartados adequadamente, vão para os lixões, jogados em terrenos baldios, cursos d"água, nas ruas ou mesmo em rios, que terão também como destino final mares e oceanos, os quais cobrem 71% da superfície terrestre e são responsáveis pelo equilíbrio climático planetário, regulando as temperaturas; produzem mais de 55% do oxigênio que respiramos. Sem os serviços prestados pelo oceano, a temperatura poderia ultrapassar 100ºC e inviabilizar a vida na Terra, conforme aponta o oceanógrafo Frederico Brandini, do Instituto Oceanográfico da USP. Brandini também destaca o importante papel dos oceanos ao lembrar que eles são o verdadeiro pulmão do mundo. "Neles é que estão as algas marinhas responsáveis pela produção da maior parte do oxigênio consumido no planeta". Pois é.
Como tudo está obviamente conectado, os problemas causados pelo desmatamento, que responde por grande parte das emissões de gases de efeito estufa (GEE) no caso brasileiro, também afetam os oceanos.
Segundo o último relatório do Intergovernmental Panel on Climate Change [IPCC], a previsão é de que sejam perdidos entre 70 a 90% dos recifes de coral com um aquecimento global médio de 1,5°C, como também impacta severamente a diversidade e abundância de espécies marinhas.
Devido à situação crítica em que se encontram os ecossistemas marinhos, a ONU lançou em abril de 2021 a Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável, de 2021 a 2030, que serve como alerta para que os países voltem suas atenções para um ambiente vital à existência humana.
O Objetivo da iniciativa da ONU é que haja programas cujas diretrizes promovam "um oceano limpo; um oceano saudável e resiliente; um oceano seguro, produtivo, explorado de forma sustentável, um oceano transparente e acessível, que passe a ser conhecido e valorizados por todos".
Mares e oceanos recebem toneladas de resíduos. Em 2018, a International Solid Waste Association [Associação Internacional de Resíduos Sólidos] em um estudo sobre poluição marinha constatou que 25 milhões de toneladas de resíduos são despejados nos oceanos todo ano, e que metade do lixo que termina nos oceanos é plástico, ou seja 12,5 milhões de toneladas de plástico por ano.
Em 2021, no discurso para a Conferência Ministerial sobre Lixo Marinho e Poluição Plástica, a diretora-geral do PNUMA, Inger Andersen, enfatiza que "até 2040, o volume de plásticos que entram nos oceanos triplicará. Os micro e nanoplásticos estão tomando conta dos mares e a pandemia está agravando o problema". Diz ainda que "a possibilidade de escaparmos do lixo marinho é tomando medidas drásticas e urgentes". De acordo com estudo lançado pelo WWF [em português Fundo Mundial para a Natureza] em 2019, o volume de plástico que vai para os oceanos todos os anos é de aproximadamente 10 milhões de toneladas.
Consumimos de forma irracional uma quantidade gigantesca de plásticos descartáveis que vão parar nos oceanos com prejuízos enormes à fauna e aves marinhas. Canudos são engolidos; sacolas e os "plásticos voadores", aqueles que o vento leva com facilidade, os encapsulam; argolas que vedam frascos de plásticos prendem seus bicos, levando-as a morrer de inanição; copos e redes os prendem e por aí vai. Do jeito que as coisas caminham, alertam os cientistas há tempos, em 2050 haverá mais plásticos nos oceanos do que peixes!
Para dar um pouco da dimensão de como estamos vivendo: pesquisa feita pela Associação Brasileira de Limpeza Pública [ABRELPE] estimou que, no Brasil, são consumidos 720 milhões de copos descartáveis por dia e levam mais de 400 anos para se decompor na natureza, e segundo a Associação Brasileira de Supermercados [ABRAS] no Brasil, cerca de 33 milhões de sacolas plásticas são consumidas por dia. A maioria delas, depois de usadas, são descartadas inadequadamente
Você já parou para pensar se os quase 8 bilhões de pessoas que aqui habitam repensassem suas atitudes? O quanto isso aliviaria a pressão no nosso planeta?